terça-feira, 27 de novembro de 2012

Espiritos que lutam contra a humanidade - Ajogun


Ajogun

Espiritos que lutam contra a humanidade


À primeira vista, muitos se apavoram em saber da existência de espíritos malignos que podem nos prejudicar. É fato que eles atrapalham a vida das pessoas, mas na concepção Yorùbá, esses espíritos fazem com que exista o equilíbrio natural, a simetria entre mundos e poderes. Isso é evidenciado, por exemplo, no jogo do Obì, no qual existe uma caída que reflete a harmonia perfeita, na qual duas faces internas do Obì caem voltadas para baixo e duas para cima, sendo que os sexos dos gomos do Obì caem divididos para baixo e para cima harmoniosamente. Na cultura dos Òrìsàs essa caída representa a simetria perfeita, pois o negativo e positivo estão em consonância, bem como o feminino e masculino. Dessa forma, embora malignos e terríveis, a existência dos Ajogun motiva as energias positivas a circularem no mundo. Essas energias positivas são estimuladas por meio dos sacrifícios (Ebó) que são prescritos por Sacerdotes, que o revelam por meio do oráculo. Os Ajogun são forças muito negativas, que tem como objetivo causar doenças, acidentes, brigas, discórdias. Por isso, quando há sacrifícios, é comum cantarmos pedindo para que a água (elemento mais puro e benéfico que existe) cubra e mate as discórdias (bomi pa ejo), cubra e mate as doenças (bomi pa arun), cubra e mate as maldições (bomi pa epe), etc. Em verdade, estamos pedindo para que a água cubra e mate os poderes malignos do mundo, os Ajogun. Diferente das Divindades que moram nos espaços do Orùn, regressando ao aye por meio da manifestação, os Ajogun moram no Aye e não no orùn. Isso acontece, pois os Ajogun não conseguiram causar males no mundo dos Deuses. Ou seja, os Ajogun moram no aye, pois aqui, diferente do orùn, eles conseguem espalhar os males de forma indiscriminada.Os Ajogun estão sempre à espreita, esperando um momento adequado para atuar. Por isso, é muito importante que as pessoas sempre se cuidem, por meio de oferendas, banhos e o que mais for necessário, conforme prescrição do Sacerdote. Quando algo de ruim surge no mundo, por exemplo, uma nova doença, isso certamente foi motivado por Ajogun, entretanto, quando uma grande descoberta em benefício à sociedade surge, foi motivada pelas forças positivas que sempre prevaleceram, como os Òrìsàs. Por diversas vezes, já discorremos sobre a importância da realização dos sacríficios prescritos, sobre a importância de não quebrar tabus (Ewó), uma das razões para termos falado bastante sobre esses temas, foi justamente para se entender que essas ações atacam os poderes dos Ajogun. Quando, por exemplo, uma pessoa quebra um Ewó, ela está ajudando e dando forças ao Ajogun. O mesmo ocorre quando o sacerdote prescreve um sacrifício que é negligenciado, a pessoa está dando forças ao Ajogun. Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos uma vez mais, ter contribuido para o esclarecimento dos temas relacionados a nossa crença.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Reencarnação existe ou não?




Reencarnação existe ou não?
"Se acharmos que uma grande desgraça nos espera, certamente veremos o que vier a ocorrer como uma desgraça. Se estivermos aguardando por um momento de iluminação, de expansão da consciência, provavelmente é isso que provaremos. Se acharmos que tudo é história da carochinha e que nada mudará, provavelmente nossos olhos não conseguirão enxergar nenhuma mudança verdadeira. Em qualquer circunstância, pode-se dizer que o nosso padrão de pensamento cria a nossa realidade. Tudo o que vivenciamos é interpretado e decodificado a partir das crenças e ideias que alimentamos a respeito. Por exemplo, diante da mesma afirmação da Bíblia, em questões extremamente controvertidas em que católicos, protestantes e espíritas pensam de forma diametralmente oposta, todos eles defendem, com total honestidade, a ideia de que no que está dito em determinada passagem (a mesma para todos) está precisamente a prova de que eles estão certos e os outros errados. E cada um deles acredita piamente nisso. Assim, é possível que talvez não exista "realidade" e "verdade" como algo absoluto. No nosso mundo físico, material, toda e qualquer realidade é relativa, e não há como dissociá-la do referencial a partir do qual ela é vista. Hoje sabemos que a matéria como algo sólido não existe, no entanto ela é absolutamente real aos nosso sentidos. A nossa verdade, por exemplo, é que para nós o mundo é colorido, a verdade do cachorro é que o mundo é preto e branco, a verdade do inseto é que o mundo é quadriculado. Animais que enxergam cores fora do nosso espectro veem um mundo em cores para nós inexistentes. É duvidosa a existência de um mundo "absoluto" e, como seres humanos, jamais saberemos se existe e, em caso positivo, como seria, pois vivemos no mundo que podemos e que acreditamos conhecer. Durante o sonho, o sonho não é real? E muitas vezes, não mudamos os contextos, no sonho, ao nosso bel prazer? Do mesmo modo, durante a nossa vida, a vida é real para nós, e dela fazemos o que queremos, já que não temos como contrastá-la simultaneamente com qualquer "outra realidade". Isso se estende muito além do mundo captado pelos sentidos físicos. Estende-se ao mundo do conhecimento, das ideias, das crenças e da imaginação. Estende-se à totalidade do nosso ser, daquilo que ele pensa que é, e do mundo em que ele pensa que está. Em sentido absoluto, nada sabemos. Como dizia Sócrates, "o meu único saber é que sei que nada sei". Admitir isso significa fazer o que a física quântica hoje está fazendo: abrir-se para toda e qualquer possibilidade, sem excluir nenhuma, já que tudo aquilo que nossa mente excluir, excluído estará, ipso facto, do nosso universo pessoal de possibilidades. Por que e para que nos limitarmos? Alguns dirão: para não enlouquecermos. Mas não seria uma loucura maior fecharmos tantas portas mentais, a priori, impedindo que uma série de "realidades" possa ocorrer conosco, já que as expurgamos desde logo do campo dos pensamentos das "possibilidades possíveis"? Acaso é possível, fora do universo físico que conhecemos, afirmar a existência de "possibilidades impossíveis"? Claro que essa visão constitui abominação para qualquer religião, já que toda religião tem a pretensão de nos oferecer um pacote de "verdades absolutas". E nem poderia ser diferente, já que toda religião foi criada e organizada por homens, embora estes sempre se atribuam a condição de arautos do próprio Criador. Se o ser humano se levasse menos a sério e fosse menos obcecado pela "verdade", talvez ele conseguisse experienciar um campo de "realidade" muito maior, se permitindo tangenciar "realidades" bem mais interessantes e criativas das que ele se permite "conhecer". Assim como os budistas dizem que a única coisa permanente é a impermanência, parece fazer todo sentido dizer que a única coisa absoluta, para o ser humano, é a total relativização ou, se se preferir, que a única verdade, para o ser humano, é a ilusão. Já Orixalistas não creem em reencarnação, creem no retorno contínuo da nossa energia advinda de uma energia matriz. Ao me perguntar sobre a reencarnação, eu disse que, provavelmente, os que acreditassem nela reencarnariam, ou achariam que reencarnariam, e os que não acreditassem, não reencarnariam, ou assim achariam. Concordo que parece um discurso totalmente absurdo, Mas talvez não necessariamente o seja. O verdadeiro alcance e a magnitude da célebre advertência: "Assim como creres, assim será", talvez seja bem mais literal e infinitamente mais amplo do que se possa supor." Façam uma reflexão gradativa e sem apegos e sem documentos superiores, sejam idônios, pois é fácil saber o que vamos fazer amanhã. 

Parte do texto copilado da Internet, adaptado e organizado.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

REVERTIDA JUSTA CAUSA DE DOMÉSTICA ACUSADA DE BRUXARIA


REVERTIDA JUSTA CAUSA DE DOMÉSTICA ACUSADA DE BRUXARIA



Uma empregada doméstica do Rio de Janeiro conseguiu reverter na Justiça do Trabalho sua dispensa por justa causa, aplicada sob a alegação de que ela teria praticado magia negra na residência do patrão. A trabalhadora também vai receber uma indenização por dano moral no valor de 40 salários mínimos, já que o juiz considerou que ela foi ofendida em sua honra e crenças ao ser chamada de bruxa. 
Na ação trabalhista, a reclamante expôs que foi admitida em maio de 2011, permanecendo no emprego por seis meses, quando foi dispensada sem receber nada. Também afirmou que sofreu abalo psicológico e em sua auto-estima, ao ser associada à bruxaria.
Em seu depoimento pessoal, o réu afirmou que a empregada foi responsável por vários acontecimentos negativos ocorridos com seu filho, que adoeceu logo após a chegada da reclamante, chegando ao estado de inanição, além do fato de ser ela a autora de cinco grandes despachos de magia negra e vodu encontrados na casa da família. 
Ao julgar o pedido, o juiz do Trabalho Leonardo da Silveira Pacheco, Titular da 76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, considerou que o reclamado não conseguiu provar suas alegações, e que a presença, não comprovada, de “despachos” em diversos móveis e em diferentes cômodos da residência não permite concluir que a autoria dos mesmos é da reclamante. Segundo observou o magistrado, o próprio reclamado admitiu a ocorrência de fatos parecidos praticados por outras pessoas que trabalharam anteriormente em sua residência, como roubo de roupas íntimas para serem levadas a cemitérios, o que demonstra fanatismo e intolerância religiosa por parte do réu.
“Tais atitudes negativas devem ser levadas ao Poder Judiciário para serem coibidas e desestimuladas por meio de sanções pecuniárias ou penais, numa forma de reduzir o fanatismo e a intolerância religiosas num país laico e que se preocupa com as liberdades individuais, afirmou o juiz, para quem a atitude do réu viola preceito constitucional de liberdade religiosa.
Além da indenização por dano moral, o empregador foi condenado a pagar as verbas rescisórias referentes a uma dispensa sem justa causa – férias proporcionais acrescidas de 1/3, gratificação natalina e aviso prévio. 
Nas decisões proferidas pela Justiça do Trabalho são admissíveis os recursos enumerados no art. 893 da CLT.
Para ler a sentença na íntegra clique aqui.


sábado, 27 de outubro de 2012

Candomblé, afinal o que é?



Candomblé, afinal o que é?

Jairo SantiagoProfessor Doutor em Comunicação /ECO/UFRJ
Desde o século XVI milhões de negros vindos da África chegaram à costa brasileira, são de diversas etnias, que, mesmo considerada a diversidade cultural, comungam do fato de terem perdido as referências territoriais e comunitárias.
Restavam-lhes apenas os valores e princípios que demarcavam sua visão de mundo.
Esse grupo utiliza as mais diversas formas e táticas de  sobrevivência.
Importante que se diga, que não se tratava apenas de uma sobrevivência espiritual, mas principalmente do corpo, de uma forma de viver.
Diante da adversidade da escravidão, era preciso recompor as referências perdidas. A religiosidade se prefigurou como um dos caminhos possíveis nessa empreitada, e o Candomblé, dentre outras manifestações religiosas se singularizou na manutenção de valores e princípios negros na diáspora. O Candomblé em sua expressão de maior magnitude, a comunidade-terreiro, permitiu a recriação de laços  comunitários e territoriais aniquilados com a escravidão.
Mas afinal o que é Candomblé?
Em primeiro lugar se faz necessário pensar que se trata de uma poderosa síntese que se processou em território brasileiro, sendo assim resultado de um longo e doloroso processo histórico, no qual os negros escravizados e, posteriormente os libertos, tecem laços comunitários e territoriais, consideradas as diversidades adversidades.  O negro se moveu, resistiu, se comunicou entre os fios da rede da repressão.
Entender essa tensa rede de acordos e enfrentamentos, de avanços e retrocessos, de disputas e acertos internos é o longo caminho para se compreender o que é o Candomblé. Nesse sentido, se lança mão aqui de uma metáfora para se tentar chegar a um primeiro entendimento do que seja candomblé, ou pelo menos uma de suas traduções possíveis:
Imagine que uma pessoa viaja até a África e que lá chegando conhece um determinado prato da culinária local, interessando-se pelo referido prato, solicita a receita e descobre que alguns dos ingredientes não existem no Brasil, e, mesmo assim, consegue os ingredientes e volta ao Brasil, onde resolve reproduzir o prato, mas se propõe a algo mais, ou seja, resolve inventar um novo prato, que embora contenha ingredientes africanos não lembra nenhum prato conhecido na África.
Portanto é um prato brasileiro. Assim é o Candomblé, pois mesmo considerados os elementos simbólicos e religiosos africanos (ingredientes) é resultado do processo histórico na diáspora, é síntese da inventividade dos partícipes. As palavras inventividade e recriação são fundamentais à compreensão do papel do negro escravizado ou liberto na diáspora.
O Candomblé agrega territorialmente elementos que no território africano eram dispersos e objeto de cultos locais e até isolados. Muniz Sodré nesse sentido afirma:

Do lado dos ex-excravos, o terreiro de (de candomblé) afigura-se como a forma social negro-brasileira por excelência, por que além da diversidade existencial e cultural que engendra, é um lugar originário de força ou potência social para uma etnia que experimenta a cidadania em condições desiguais. Através do terreiro e de sua originalidade diante do espaço europeu, obtêm-se traços de fortes subjetividade histórica das classes subalternas no Brasil (SODRÉ.1988,p.18)

Retomando o conceito de comunidade-terreiro, percebe-se que a mesma implica além da junção de elementos dispersos e distantes, uma nova concepção de comunidade, que agrega vivos e mortos, implica em uma relação de troca entre os vivos e os ancestrais, entre deuses e seres humanos, implica ainda em uma visão de ser humano que negocia com os deuses e ancestrais uma boa vida na terra, uma vida alegre, criativa e em constante movimento, pois para o Candomblé nada é estático, tudo é movimento, tudo é troca constante.
A idéia de movimento remete a um dos elementos mais importantes do Candomblé, que a figura de Exu, senhor do movimento sem fim, é responsável pela existência dinâmica da realidade, tudo muda, seres humanos, árvores, pedras, todos são parceiros em uma relação que é dada pela dimensão de um jogo cósmico. As possibilidades vão sendo construídas e destruídas o tempo todo. O segredo da regra do jogo encontra-se na palavra acerto, ou seja, acertar um ponto, fechar um acordo, alterar uma situação, enfim simular e dissimular a realidade. Uma grande figura do Candomblé, o professor Agenor Miranda da Rocha , dizia com propriedade: Candomblé é um sistema cuja base é Exu.
Assim sendo, na impossibilidade de um ponto fixo de referência, e de uma conversão à uma verdade eterna e imutável, como caminha a civilização ocidental
desde Platão, o Candomblé acena sempre com a possibilidade de se mudar o mundo e o destino. Busca-se enganar a morte, nem que seja por uma vez. O candomblé não se prefigura como um espaço de conversão à uma única verdade. Pertencer a uma comunidade-terreiro não exige o pressuposto da adesão a verdade, basta estar ali. Em uma festa ou cerimônia pública não se pergunta se a pessoa acredita ou não na divindade presente, ou nos princípios ali vigentes.
Os deuses existem independentemente da fé. Deve se entender Candomblé como um espaço de enfrentamento do projeto universalista da civilização ocidental. Na comunidade-terreiro o homem é capaz de estabelecer uma relação de troca sem que sobre um resto a ser apropriado economicamente e em favor de algum grupo
dominante .
A comunidade-terreiro recria a referência territorial-comunitária perdida em razão da escravidão. Os negros e seus descendentes reconstituem possibilidades de enfrentar o mundo que lhes é hostil e adverso.
Candomblé e Modernidade – considerações finais
O Candomblé, embora não se possa dizer que esteja fora da modernidade, implica em pontos de enfrentamento a esse projeto de ocidentalização do mundo pela lógica do mercado. Alguns aspectos da comunidade-terreiro apontam na direção de negar a modernidade. Entre esses pontos podem ser destacados: a relação com o corpo, que deixa de ser uma mercadoria, a impossibilidade da reprodução ad infinitum dos bens, a relação com o tempo e com o espaço.
A crença na palavra do pai fundador que se traduz no culto à ancestralidade, o reforço do sentido coletivo do agir humano que se choca frontalmente com o individualismo moderno; a crença no movimento constante da vida e dos homens, a crença na palavra e a desnecessidade de contratos escritos para garantir o cumprimento de um acordo e finalmente a negação de um dos sentidos da existência, a noção de axé. Para os adeptos do Candomblé a vida é um ato de alegria que se perpetua entre os parceiros do cósmico. Mas viver o hoje não implica uma visão pós-moderna de vida, um imediatismo infrutífero, mas sim, uma relação de ética comunitária, a felicidade de um deve estar imbricada com a felicidade de todos. Afinal isto é Candomblé.
Referências Bibliográficas
SODRÉ,Muniz, A verdade seduzida: Por um conceito de cultura no Brasil: Rio de Janeiro,CODECRI, 1983.
___________, O terreiro e a cidade: A forma social brasileira, Petrópolis: Vozes,1988.

LENDA DE IROKO: QUEM PROMETE A IROCO DEVE CUMPRIR.





Havia uma vendedora de obis e orobôs que todos os dias, ao ir para o
mercado, passava por um grande pé de iroco e lhe deixava uma oferenda, pedindo que ajudasse a engravidar, assim mais tarde, teria alguém para ajudá-la com a mercadoria que carregava na cabeça num pesado balaio e, também companhia na velhice.
Prometia a Iroco um bode, galos, obis, orobos e uma série de oferendas da predileção do Orixá da Arvore.
A mulher concebeu e deu a luz a uma filha, esquecendo-se da promessa no mesmo instante. Ao ir para o mercado, escolhia outro caminho, esquivando-se de passar perto de Iroco, com medo que o Orixá cobrasse a promessa.
A menina cresceu, forte e sadia e, um dia a mulher teve necessidade de
passar, com a filha, perto de Iroco.
Não tinha outro jeito se não por ali. Saudou a arvore, sem se deter, e
seguiu seu caminho, com o balaio na cabeça.
A criança parou junto a quem lhe tinha dado a vida (sem de nada saber), achando Iroco belo e majestoso.
Apanhou uma folha caída no chão e não se deu conta que a mãe seguia em frente, andando mais depressa que de costume, quase correndo. Quando a mulher percebeu que tinha caminhado ligeiro demais, já estava muito afastada da menina.
Olhando para trás. Viu a arvore bailando com a criança e falando da promessa abandonada. As enormes raízes abriram um buraco na terra, suficientemente grande para tragar a menina, propriedade do orixá.
"Quem prometer, que cumpra".



Iroko (Chlorophora excelsa) - Árvore africana, também conhecido como Rôco, Irôco, é um orixá, cultuado no candomblé do Brasil pela nação Ketu e, como Loko, pela nação Jeje. Corresponderia ao Nkisi Tempo na Angola/Congo.

No Brasil, Iroko é considerado um orixá e tratado como tal, principalmente nas casas tradicionais de nação ketu. É tido como orixá raro, ou seja, possui poucos filhos e raramente se vê Irôko manifestado. Para alguns, possui fortes ligações com os orixá chamados Iji, de origem daomeana: Nanã, Obaluaiyê, Oxumarê. Para outros, está estreitamente ligado a Xangô. Seja num caso ou noutro, o culto a Irôko é cercado de cuidados, mistérios e muitas histórias.

No Brasil, Iroko habita principalmente a gameleira branca, cujo nome científico é ficus religiosa. Na África, sua morada é a árvore iroko, nome científico chlorophora excelsa, que, por alguma razão, não existia no Brasil e, ao que parece, também não foi para cá transplantada.

Para o povo yorubá, Iroko é uma de suas quatro árvores sagradas normalmente cultuadas em todas as regiões que ainda praticam a religião dos orixás. No entanto, originalmente, Iroko não é considerado um orixá que possa ser "feito" na cabeça de ninguém.




Para os yorubás, a árvore Iroko é a morada de espíritos infantis conhecidos ritualmente como "abiku" e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se vêem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se faça oferendas a Oluwere aos pés de Iroko, para afastar o perigo de que os espíritos abiku levem embora as crianças da aldeia. Durante sete dias e sete noites o ritual é repetido, até que o perigo de mortes infantis seja afastado.




O culto a Iroko é um dos mais populares na terra yorubá e as relações com esta divindade quase sempre se baseiam na troca: um pedido feito, quando atendido, sempre deve ser pago pois não se deve correr o risco de desagradar Iroko, pois ele costuma perseguir aqueles que lhe devem.




Iroko está ligado à longevidade, à durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos.

O voo do Igun





O voo do Igun

Igun (Abutre)

Nos primeiros dias do mundo na cidade de Ilé Ifé (local da fundação do mundo dentro da cosmogonia yorùbá), os òrìsá se cansaram de servir Òlódùmarè. Eles começaram a resistir ao Senhor dos decretos do Céu e até mesmo para tramar a deposição de Òlódúmarè no reino do céu e da terra. Eles achavam que não precisavam de Òlódúmarè e que, como o Senhor do Céu estava tão distante de qualquer maneira, eles poderiam simplesmente dividir a dor ou poderes entre si e que as coisas iriam muito melhor assim Quando Òlódúmarè travou o vento desta atitude e suas parcelas, o Senhor dos Céus agiu de forma simples e decisiva: Òlódúmarè simplesmente retido a chuva da terra. Logo, o mundo ficou possuído por um projeto surpreendente, o solo tornou-se seca e rachada, as plantas secaram e morreram sem água. E não demorou muito para que todos na Terra, os òrìsá e seus filhos parecidos começaram a morrer de fome. Depois de um curto período de tempo, barrigas roncando e rosto pálido começou a falar mais alto do que seu orgulho e rebeldia. Eles decidiram, por unanimidade para ir para Òlódúmarè e pedir perdão na esperança de que isso traria a chuva de volta ao mundo. Mas eles tinham um problema: nenhum deles poderia alcançar a casa distante de Òlódúmarè. Eles mandaram todos os pássaros um por um para tentar a viagem, mas todos e cada um deles falharam cansativo muito antes de chegar ao palácio do Senhor dos Céus. Ele começou a aparecer que toda a esperança estava perdida.

Então, um dia, o pavão, que era na realidade Osún mesma, veio oferecer seus serviços para salvar o mundo a partir desta seca. Mais uma vez houve revolta geral e riso como os òrìsá contemplada a ideia deste pássaro vaidoso e mimado empresa tal viagem. "Você pode quebrar uma unha", disse um deles. Mas o pavão pouco persistiu e, como eles não tinham nada a perder, eles concordaram em deixá-la tentar. Assim, o pavão pouco voou na direção do sol e do palácio de Òlódúmarè. Ela logo cansado da viagem, mas ela continuou a voar cada vez mais elevados, determinado a alcançar o Senhor do Céu e para salvar o mundo. Indo ainda mais alto, suas penas começaram a se tornar desgrenhadas e pretas a partir do calor do sol fulminante, e todas as penas foram queimadas da cabeça, mas ela continuou voando. Finalmente, através de vontade e determinação, ela chegou às portas do palácio de Òlódúmarè é. Quando Òlódúmarè veio sobre ela, ela era uma visão patética, ela havia perdido muito de suas penas e os que permaneceram eram negros e desgrenhados. Sua forma outrora bela era corcunda e sua cabeça era careca e coberto com queimaduras de voar tão perto do sol.

O Senhor do Céu teve pena dela e trouxe-a para o palácio onde ela tinha comida e água, e suas feridas foram tratadas. Ele perguntou por que ela tinha feito uma viagem tão perigosa. Ela explicou o estado do planeta Terra e passou a dizer a Òlódúmarè que ela tinha vindo em risco de sua própria vida para que seus filhos (a humanidade) pudessem viver. Quando Òlódúmarè olhou para o mundo e olhar melancólico de Òsún, era óbvio que tudo o que ela tinha dito era verdade. O Senhor do Céu, em seguida, virou-se para o pavão que agora era o que chamamos de abutre, dizendo que seus filhos seriam poupados deste tormento e ordenou a chuva para começar a cair de novo. Então Òlódúmarè olhou profundamente nos olhos Òsún e em seu coração, então anunciou que por toda a eternidade, ela seria o Mensageiro da Casa de Òlódúmarè e que todos teriam que respeitá-la como tal.

Daquele dia em diante neste caminho, ela se tornou conhecida como Ìkòlé òrun, o mensageiro da casa de Òlódúmarè. E a partir daquele dia o caminho de Òsún conhecido como Ibú Ìkòlé foi reverenciado e se tornou associado com seu pássaro, o abutre. O abutre, em seguida, retornou a Terra, trazendo com ela a chuva, onde se encontrou com grande regozijo. Como convém a uma rainha ou Ìyálòde, ela graciosamente absteve-se de lembrá-los de suas piadas e abusos para com ela podia, porém, podia-se ver a vergonha em seus rostos. É por isso que, sempre que uma pessoa é iniciada como sacerdote em nosso culto, não importa qual òrìsá está sendo plantados em sua cabeça, eles devem primeiro ir para o rio e dar conta do que estão fazendo, pois Òsún é um dos Mensageiros de Òlódúmarè.

Maferefun Òsún.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

NOSSAS AÇÕES DENTRO DO MUNDO VISÍVEL E INVISÍVEL.



O universo Iorubá é dividido em duas metades. A direita que é habitada por forças benévolas e o esquerdo são habitados por forças do mal, conhecidas por Ajogun.
Estes  guerreiros, ajoguns, têm oitos forças malignas importantes: Morte, Doença, Perdas, Paralisia, Problemas, Maldição, Obstáculo, Prisão e os males não mencionados. Como males não mencionados encontramos dor de estomago, lepra, dor de cabeça, AIDS e etc…
Estas forças formam um grupo de 200 divindades + 1, onde o 1 representa a possibilidade de aumento destes números. Que pode ser explicada por doenças novas, por isso o Universo iorubá é místico e elástico.
Como é possível então que as forças benevolentes convivam com as forças do mal neste universo (Cosmos).
O ponto principal é que existe um ponto de equilíbrio entre essas forças, que estam sempre em conflito. A força do mal estam sempre lutando contra os seres humanos por isto essa parte do cosmos está sempre em conflito. Os conflitos são a ordem do dia e não a paz.
Porque qualquer coisa que fazemos está provocando conflito. O nosso café da manhã, nosso almoço e jantar, não só cria conflito, como também tem a  ver com alguma morte no Universo (cosmos), por exemplo, ao sair com seu carro à noite você pode ter matado alguns insetos no seu caminho, quantas mortes sua alimentação provocou?
Olhando por este ângulo como podemos ter paz?
Para a maioria dos africanos os sacrifícios existem a fim de manter a paz e o equilíbrio. Os sacrifícios têm que envolver todas as forças, tanto malignas como benignas e os seres humanos.
O sacrifício é nossa maneira de nos comunicar com as forças sobrenaturais e apresentar nosso problema. Uma vez que foram aceitos/recebidos, todas as forças se empenham em trabalhar para o ser humano e resolver este problema e alcançar a paz.
O nigeriano freqüentemente usa frangos, galos, galinhas e frangas em seus sacrifícios.
Por que isso?
Porque estes animais representam a galinha que acompanhou as divindades na sua jornada do Orun ao Ayè (do céu a Terra). A galinha foi  responsável pelo primeiro adubo que foi lançado sobre a terra e o espalhou fertilizando o solo. Ela foi o primeiro habitante da Terra.
Por este motivo não há problema que ela não conheça ou testemunhou.
Ela conhece este quebra-cabeça. Ela termina com o mito de quem nasceu primeiro: ‘o ovo ou a galinha’.
O homem tem a tendência de fazer uso diário de coisas que dão bons resultados. Então quando enviamos mensagens para o céu, usamos a galinha porque ela se lembra que foi ela quem acompanhou as divindades em sua jornada para a Terra e é conhecedor de ambos os mundos, o visível e o invisível, portanto um bom mediador e mensageiro.
O sacrifício tem sido um tema de controvérsia entre muitos estudiosos, para não mencionar, outras religiões. Nosso sacrifício tem sido muito mal interpretado.
Para nós, cultuadores de Òrìsá, falar, orar e pensar não é suficiente para uma comunicação completa com as divindades. Como teremos certeza que Olodunmarè entende nossa língua e todas as línguas do mundo, digo nossa mensagem, “Como é que os animais que não falam, podem entrar em contato com Olodunmarè e levar nosso pedido?”
Pense nas formigas, se você coloca um pouco de mel em uma mesa, no dia seguinte estará cheio de formiga em volta do mel. Seu sentido, seu olfato é muito mais desenvolvido que o nosso, ela apareceu porque foi induzida através e uma mensagem. É por esta razão que devemos pensar que todos seremos nada sem uma mensagem perfeita.
Não sentimos cheiro de sal e açúcar, isso demonstra que somente oriki e orações não são suficientes para uma comunicação com as divindades.
Quando executamos um sacrifício a uma divindade e executamos outro ao Deus brincalhão (Esù), que compartilha os dois lados do Universo. Esquerda e  direita e informa tudo a Olodunmarè, que tem 200+1 divindades malévolas como suas filhas, estamos buscando o equilíbrio e a cura de nossos problemas através de Esú e outras divindades também.
Podemos notar como é difícil nossa comunicação direta com os Deuses africanos. Não é como outra religião onde o contato com o Deus maior é direto. Além disso, devemos pensar que Olodunmarè tem como seus filhos as forças do bem e do mal e lhes deu o poder da energia vital (asè), podemos inclusive nos perguntar por que Ele fez isso. Porque todo lado tem duas versões, porque quando se fala do bem, temos certeza que o mal também existe e um não poderia viver sem o outro, daí nasce à noção de equilíbrio.
Podemos usar o exemplo de uma pessoa doente que sacrifica, este sacrifício deve ser dado tanto a divindade da direita como a divindade da esquerda, porém se Esù não participa não há como haver alguém que dialogue com os dois lados a seu favor. Feito isso com certeza teremos paz.
Esù usará isto para manter as forças da esquerda longe de você.
É deste jeito que a paz é alcançada, por isto sacrifício deve ser feito de uma maneira constante e consistente.
Esta maneira de convívio com o mundo invisível é de difícil compreensão pelos povos ocidentais.
A forma interessante de olhar este tipo de vida, implica que cada um de nós é, de certa forma, responsável pela sua prosperidade.
Então se você quer melhorar sua vida, tem que oferecer sacrifício, paz, tranqüilidade e prosperidade não são comercializadas.
Seja o que for colocado ou removido de seu caminho terá que ser através de sacrifício.
Isto pode estar ligado a sangue ou alimentos, como também podem estar ligado as suas ações.
Como uma mulher que limpa o apere de Ifá de 4 em 4 dias, cantando e dançando, dedicando seu tempo a divindade da sabedoria, isto é sacrifício.
A idéia de sacrifício Ioruba é uma grande contribuição ao pensamento religioso, mas freqüentemente é mal interpretada.
 Texto garimpado na net, sem autoria.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Etù – A galinha D’Angola





Etù – A galinha D’Angola


A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.
Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.
Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:
Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!
A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.
A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, disse sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.
O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.
Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.
Essa história é um grande ensinamento, pois mostra que não podemos julgar ninguém por sua aparência, mostra que não devemos jamais negar comida e bebida. Nossa religião oferta, ajuda e acolhe, essa é mensagem que devemos guardar.



Axé !!!!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A interação entre Xangô e Omulu







A interação entre Xangô e Omulu

Eu ouvi de muitos irmãos de casas de umbanda e candomblé dizerem que Xangô tem aversão à morte e a doença e por isso, filhos de Xangô na umbanda não trabalham em corrente de desobsessão e jamais incorporam Omulu. E que também não podem ter guias na linha das almas, na linha de Omulu, e no candomblé onde esta Xango não pode estar Omolu e vice versa. Eu sou filho de Xango e Oya, sou de candomblé engenho velho, ogã suspenso por Omolu. E muitas vezes em varios candomblé presenciei esta separação. Em olubaje, banquete do rei Omolu, durante o xire, não se louva xango. E nas Festas de Xango não se louva Omolu. No meu axe isso não acontecia. Cheguei a perguntar o porque, e as respostas eram até razoaveis, não satisfeito fui pesquisar. Meu pai Xangô foi o criador do culto de Egungun e ele foi o primeiro Ojé ( Sacerdote do Culto aos Mortos ) e também foi o primeiro Alapini ( Sumo-sacerdote do Culto aos Mortos ) isso é evidenciado em um de seus Orikis que fala:
Oba ìrú l´òkò...Oba ìrú l´òkò
Ìyámasse kò wà Ìrà oje
Aganju ko má nje lekan
Árá l`okò láàyá...Tóbi òrìsà,
Oba só òrun ...Árá oba oje

"Rei do Trovão ( Raios ) Rei do Trovão ( Raios )
Encaminha o Fogo sem errar o alvo ( Alusão aos Raios ), nosso vaidoso Ojé
Xangô alcançou o Palácio Real Único que possuiu
Oiá Grande líder dos Orixás
Rei que conversa no Céu e que possui a honra dos Ojés
Rei que conversa no Céu e que possui a honra dos Ojés."


A interação entre Omulu e Xangô é uma realidade, ao contrário do que alguns pensam, e pode ser representada por Xangô Abomi e Xangô Aganju, que na umbanda são representantes de Xangô na Linha das Almas. Não permitir que filhos de Xangô trabalhem em desobsessões é um erro grave, até porque a missão principal de um médium é exercer o trabalho fraternal, de ajuda, e impedi-lo de praticar o bem, o auxílio a um irmão obsediado, é uma falha grave. Enfim toda essa história de que Xango tem aversão a morte, eu entendo não tem fundamento. E eu sou uma prova viva disto.

Lenda de um Exú Marabo


Lenda de um Exú Marabo





EXÚ MARABÔ DA FIM A CARREIRA DO KIUMBA E SEU CAVALO! 

Exu Marabô está em terra. Os poucos filhos que acompanham aquele terreiro vibram com sua presença. Na assistência algumas pessoas ansiosas aguardam para serem atendidas. O Exú ri, dança, bebe desenfreadamente.
Atende uma filha da casa recém-casada. Fala para a filha tomar cuidado com o marido, pois ele vai traí-la em breve. A moça desespera-se. Ele então passa uma longa lista para realizar o trabalho salvador. Sabe que já plantou a semente irreversível da desconfiança no jovem casal. Na assistência um pequeno empresário aguarda atendimento. O Exú diz que a firma não falirá, para isso precisa de vultuosa quantia em dinheiro para trabalho urgente. Chega a vez de uma médium, filha de outro terreiro, que visita pela primeira vez a casa. Mais uma vez o compadre não se faz de rogado. Diz para a pequena sair do terreiro que freqüenta, pois segundo ele a mãe de santo não entende nada sobre Umbanda. E assim ele vai plantando a discórdia, a desunião, a dor.
Sempre que pode humilha publicamente os filhos da casa.
Os dias passam sem novidades.
O que ninguém ali imagina é que por trás daquela entidade que se diz chamar Marabô, está escondido um enorme kiúmba. Aproveitando-se do fato do tal pai de santo ser pessoa leiga, gananciosa e totalmente despreparado, ele domina o mental do incauto médium. Diverte-se com a angústia dos outros. Sempre que pode põe o pai de santo em enrascadas (cheques sem fundos, golpes que são descobertos constantemente, brigas e desunião em família). E o pai de santo não tem escrúpulos algum em usar o nome de um grande e respeitado Exú de Lei. Ao contrário, fica feliz em saber que aos poucos vai minando a credibilidade do verdadeiro Marabô. O Exú raciocina que o dia em que as trapalhadas colocarão tudo a perder e ele simplesmente abandonará o falso pai de santo à própria sorte. Não será o primeiro nem o último que ele abandonará. Afinal pensa o kiúmba, não fora ele que médium ainda novo, desenvolvendo, resolveu mistificar para dar uma abreviada no processo mediúnico de desenvolvimento? Não fora também por conta própria que o médium abandonara o terreiro de sua mãe de santo, sem ter preparo algum? Sem falar que enquanto esteve lá, desrespeitava os ensinamentos da casa, zombava dos irmãos de santo, dava golpes em tantos médiuns que muitos pediram até sua expulsão da casa? Pois então fora ele mesmo que atraiu o kiúmba e sendo assim essa sociedade duraria até quando fosse possível.
O ser do umbral ganhando energia negativa, achincalhando Marabô, e o falso pai de santo ganhando dinheiro. O kiúmba também aproveitava para trazer em terra seus falangeiros, que se aproveitam dos médiuns titubeantes da casa.
Hoje é dia de gira, no atabaque o atabaqueiro já está devidamente bêbado e sob influência dos asseclas do kiúmba. As filhas e filhos da casa cegos em sua fé e sob forte energia maléfica, são capazes de aceitar qualquer loucura ali realizadas. O falso Marabô está feliz, já olhou a assistência antes de incorporar.
Notou algumas pessoas que não lhe despertaram interesse.
Algumas mulheres velhas e sem dinheiro, um homem que também não traz dinheiro algum. Vai se divertir com eles. Pronto já está em terra!
Atende a assistência como de costume, diverte-se com as angústias, os medos, as dores daquelas pobres almas.
Chega a vez do homem que estava na assistência, ele adentra de maneira lenta. O kiúmba não lhe dá a mínima atenção.
Um erro fatal.
Pois assim que o homem fica frente a frente com o ser do umbral algo inusitado acontece: o homem incorpora, solta uma gargalhada jovial e desafiadora. Alguns médiuns do terreiro que mistificavam ou recebiam alguns asseclas do kiúmba “desincorporam” convenientemente.
O atabaqueiro de tão bêbado, acaba por cair ao lado do tambor.
A assistência não entende o que se passa.
O kiúmba entende, mas para ele é tarde demais.
Por estar incorporado ele não tem tanta desenvoltura como gostaria nesse momento crucial. Está só, já que os covardes que o seguiam fugiram dali.
Um verdadeiro Marabô está ali diante dele e avança em sua direção.
No congá as velas começam a queimar a cortina que protege o altar.
Na cafua a pinga aquecida pelas velas também se incendeia.
A assistência percebe que algo muito errado está acontecendo e fogem todos.
Antes o verdadeiro Marabô se vira para eles e mostra o quanto foram tolos em se deixar enganar. Fala que devem procurar ajuda, mas em terreiros sérios aonde se pratica a caridade, o amor e a união. Mostra o quanto foram usados.
O kiúmba protesta, mas é inútil, a máscara já caiu.
Marabô não está só, sua falange e muitos Exús de Lei estão adentrando no falso terreiro.
O kiúmba é capturado e levado para o Reino de Exú, onde pagará caro pela insolência.
O falso pai de santo está entregue a própria sorte.
As chamas consomem o terreiro velozmente.
Ao chegar as primeiras viaturas do Corpo de Bombeiro o oficial de plantão presencia uma cena que jamais esquecerá: no meio das chamas o pai de santo é tragado pelo fogo e desencarna diante dos olhos do atônito bombeiro.
Uma risada se faz ouvir. Marabô gargalha satisfeito do outro lado. Apesar das chamas o bombeiro sente um frio que lhe percorre a espinha. O terreiro e o "pai de santo" viram cinzas.
Justiça foi feita.
Saravá Senhor Marabô!!!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Yánsàn, a mulher Búfalo.


Yánsàn, a mulher Búfalo.

Um dos insígnias mais representativos de Yánsàn são os chifres de búfalo, é comum vermos Oya dançando com esses chifres à tira colo (Oya Ni O To Iwo Efon Gbe – “Oya é a única que pode agarrar os chifres do Búfalo”). Eles também são usados para “evocar” a grande Deusa dos ventos, conforme ilustra-nos a história a seguir:
“Lutar e levantar o pó como o búfalo” foi quem jogou Ifá para o caçador. Eles disseram que ele deveria fazer um sacrifício para se casar. O Caçador sacrificou dois galos, duas galinhas, cerveja de milho, búzios e pães de inhame. O Caçador fez o sacrifício.
Um dia este Caçador foi para o campo, quando subiu para a sua plataforma de vigia, viu um Búfalo, mas quando tentou virar a sua arma para ele, o Búfalo transformou-se numa bela virgem vermelha (Oya – Yánsàn). Quando ela acabou de tirar o disfarce, o Caçador viu-a escondê-lo atrás de uma árvore. No entanto, Oya não observou que o Caçador a tinha visto.
Quando a mulher Búfalo foi embora, este Caçador deixou a sua vigia, e pegou o disfarce de Oya, colocando-o em sua bolsa, seguindo-a até o mercado. Quando chegaram lá, este aproximou-se dela, cumprimentou-a e disse a ela que tinha vindo ao mercado em busca dela. Este Búfalo que tinha se transformado em mulher respondeu: “alguma coisa de errado?” O Caçador respondeu que queria se casar com ela. A mulher Búfalo disse que não ia se casar com ninguém. Na terceira vez que o Caçador se aproximou com estas palavras, ela perguntou se ele tinha visto alguma coisa por trás dela. O Caçador respondeu que sim. A mulher Búfalo disse: “o que você viu por trás de mim”? Então o Caçador disse que ela deveria ir com ele para que ele pudesse dizer o que tinha visto por trás dela.
Quando saíram do mercado, o Caçador botou a mão no saco e retirou o disfarce mostrando para ela. Quando ela viu o disfarce, disse que ele deveria ter pena dela e que ela se casaria com ele. A mulher Búfalo voltou ao mercado, reuniu as mercadorias e saiu com o Caçador, mas enquanto estavam na estrada, ela disse que ele não deveria comentar nada daquilo com ninguém; e o Caçador afirmou que não diria nada. Assim, ela se tornou sua esposa e eles viveram juntos na casa dele.
Esta mulher começou a ter filhos, mas a esposa com quem o Caçador se casara primeiro, começou a importuná-lo, perguntando onde ele tinha encontrado a segunda esposa, pois ele não comentara o assunto. O Caçador disse que ela era filha das mulheres que vieram ao campo para comprar carne com ele. A resposta não satisfez a primeira esposa e ela começou a indagar se ela tinha vindo desta ou daquela cidade.
O Caçador respondeu que era de uma cidade diferente, mas ainda assim isto não satisfez à mulher. E ela começou a fazer perguntas. Enquanto perguntava, a mulher Búfalo teve o seu primeiro filho, e o segundo filho. A primeira esposa foi ao filho mais velho do Caçador e discutiu o assunto com ele. O filho mais velho pegou o pai e deu-lhe muito vinho de palma para beber. Quando o caçador bebeu, seu filho perguntou: “onde encontrou a sua esposa?” Ele respondeu que ela era um Búfalo, que ele a tinha visto retirando o disfarce no campo, e que ele tinha pego o disfarce e ido ao mercado com ela, que tinha mostrado a ela o disfarce e que daquele dia em diante, ela tinha sido sua esposa.
Quando o filho mais velho do Caçador chegou em casa, contou isto para sua mãe. Depois de um tempo, o Caçador se aprontou e foi para o campo, mas no segundo dia após a sua partida, sua primeira esposa pegou um pedaço de madeira e atirou-o ao chão para parti-lo (é um tabu jogar a madeira contra o chão desta maneira na casa de um caçador).
A mulher Búfalo perguntou se o marido delas não a teria avisado que ela não deveria quebrar a madeira desta forma na casa dele. Então a primeira respondeu com desdém: “cuide de sua vida e vá embora! você é um ser humano e um animal, o seu disfarce esta escondido no telhado.” Quando a mulher Búfalo ouviu isto, respondeu: “ha!” e ficou quieta. Aprontou-se e foi procurar no telhado. Quando chegou lá, encontrou o disfarce onde o Caçador o tinha escondido e o trouxe, mas ele estava muito ressecado, então, ela juntou um pouco de água e colocou o disfarce dentro.
Depois foi até a esposa mais velha, deu-lhe uma cabeçada e a matou. Feito isso, ela tirou um dos seus dois chifres e foi até o campo. Quando o Caçador a viu chegando, soube que um pedaço de madeira tinha sido quebrada em sua casa. Quando ela quis dar uma marrada no marido, ele disse que ela não deveria fazer aquilo com ele.
Então, ela perguntou ao Caçador, como a primeira esposa tinha sabido sobre o mistério dela. O Caçador contou como o filho mais velho o levara e lhe dera muito vinho de palma para beber, até ele não saber mais o que falava. Então ela disse: “Está bem.” Disse que não o mataria, mas que ele fosse para casa e que sempre que os filhos dela quisessem realizar seu festival anual, ele deveria sacrificar com eles para o chifre que ela tirara e tinha deixado em casa como uma lembrança.
Daquele tempo em diante, seus filhos continuaram a sacrificar para os chifres desta maneira, são o que chamamos e cumprimentamos como os “filhos do Búfalo” até hoje.
No Terreiro de Òsùmàrè, até hoje é entoada uma cantiga que alude a passagem supra narrada, na qual Yánsàn sobe no telhado em busca da sua roupa, que havia sido escondida pelo seu marido.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto: Casa do Òsùmàrè

Exu não pode?

Exu no Candomblé e na Umbanda


Exu no Candomblé e na Umbanda

Há algumas diferenças na maneira de ver Exu no Candomblé e na Umbanda.
No primeiro, Exu é como os demais Orixás, uma personalização de fenómenos e energias naturais. O Candomblé considera que as divindades, ou seja os Orixás, incorporam nos médiuns (cavalos ou aparelhos). Na Umbanda, quem incorpora nos médiuns, além dos Caboclos, Pretos Velhos e Crianças, são os Falangeiros de Orixás, representantes deles, e não os próprios.
A Umbanda considera os Exus não como deuses, mas como uma entidade em evolução que busca, através da caridade, a evolução. Em síntese, o grande agente mágico do equilíbrio universal. Também é o guardião dos trabalhos de magia, onde opera com forças do astral. E também são considerados como “policiais”, “sentinelas”, “seguranças” que agem pela Lei, no submundo do “crime” organizado e principalmente policiando o Médium no seu dia-a-dia. As “equipes” de Exus sempre estão nestas zonas infernais, mas, não vivem nela.
Obedecem à severa hierarquia nos comandos do astral se classificando também como Exus cruzados, espadados e coroados.
Exus de Umbanda, de acordo com a crença religiosa, são espíritos de diversos níveis de luz que incorporam nos médiuns de Umbanda, Omolokô, Catimbó, Batuque, Santo Daime, Xambá e Candomblé de caboclo.
Nos candomblés de Ketu e Jeje não há incorporação de espíritos oficialmente, já nos candomblés de Angola podem-se encontrar casas que adotem a incorporação de Exus, Pomba-giras, Boiadeiros e Marinheiros.
Porém, o Exu (Orixá), cultuado somente no Candomblé, não incorpora para dar consultas, diferentemente do Exu de Umbanda, considerado uma entidade.
Na Umbanda não se manifesta o próprio Orixá, por meio da incorporação, mas sim seus mensageiros ou falangeiros, espíritos que vêm em terra para orientar e ajudar. Quando incorporam, se caracterizam alguns com capas, cartolas, bengalas (masculinos), e saias rodadas, brincos, pulseiras, perfumes, rosas (femininos, também chamados de Pombo-giras). Mas não necessariamente os médiuns se utilizam destas vestimentas para a incorporação. Cada terreiro trabalha de uma forma diferente, alguns centros uniformizam a roupa dos médiuns, onde todos vestem branco.

Natureza e incorporação de Exus


Encontramos aqueles que crêem que os Exus são entidades (espíritos) que só fazem o bem, e outros que crêem que os Exus podem também ser neutros ou maus. Observa-se que, muitas vezes, os médiuns dos terreiros de Umbanda – e mesmo de Candomblé – não têm uma ideia muito clara da natureza da(s) entidade(s), quase sempre, por falta de estudo da religião. Na verdade, essa Entidade não deve ser confundida com o (obsessores), apesar de transitar na mesma Linha das Almas, sendo o seu dia a segunda-feira, ficando sob o seu controle e comandando os espíritos atrasadíssimos na evolução e que são orientados pelos Exus para que consigam evoluir através de trabalhos espirituais feitos para o bem.
Sua função mítica é a de mensageiro, o que leva os pedidos e oferendas dos homens aos Orixás, já que o único contacto directo entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação, quando o corpo do ser humano é coligado ao seu Exu por meio dos chacras. É ele quem traduz as linguagens humanas para os seres superiores. Por isso, é imprescindível a sua presença para a realização de qualquer trabalho, porque é o único que efectivamente assegura em uma dimensão o que está acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados. Possuem a função também de proteger o terreiro e seus médiuns.
O poder de comunicar e ligar, confere a ele também o oposto, a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Se possibilita a construção, também permite a destruição. Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas, cemitérios, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas de entradas e saídas.
Esses espíritos utilizam-se de energias mais “densas” (materiais). Nota-se que essas entidades podem realizar trabalhos benignos, como curas, orientação em todos os setores da vida pessoal dos consulentes e praticar a caridade em geral. Os trabalhos malignos (os tão famosos “pactos com o diabo” ), como matar por exemplo, não são acordos feitos com os Exus, mas com os Kiumbas que agem na surdina e não estão sob a orientação de algum Exu, fazendo-se passar por um deles, actuando em terreiros que não praticam os fundamentos básicos da Umbanda que são: existência de um Deus único, crença de entidades espirituais em evolução, crença em Orixás e Santos chefiando falanges que formam a hierarquia espiritual, crença em guias mensageiros, na existência da alma, na prática da mediunidade sob forma de desenvolvimento espiritual do médium, e o uso de ervas e frutos. Jamais maldades, e caridade acima de tudo.
O verdadeiro Exu não faz mal a ninguém.
O chamado “Exu Pagão” é tido como o marginal da espiritualidade, aquele sem luz, sem conhecimento da evolução, trabalhando na magia para o mal, embora possa ser despertado para evoluir de condição.
Já o "Exu Batizado", é uma alma humana já sensibilizada pelo bem, evoluindo e, trabalhando para o bem, dentro do reino da Quimbanda, por ser força que ainda se ajusta ao meio, nele podendo intervir, como um policial que penetra nos reinos da marginalidade.
Não se deve, entretanto, confundir um verdadeiro Exu com espíritos zombeteiros, mistificadores, obsessores ou perturbadores, que recebem a denominação de Kiumbas e que, às vezes, tentam mistificar, iludindo os presentes, usando nomes de “Guias”.
Para evitar essa confusão, não é dada aos chamados “Exus Pagãos” a denominação de “Exu”, classificando-os apenas como Kiumbas. E reservamos para os ditos “Exus Baptizados” a denominação de “Exu”.
In: Laroie Exu: Um estudo sobre a Umbanda e a Quimbanda

Intolerância religiosa


"Tudo o que é bom e justo emana de um único Deus, que hoje pode ter muitos nomes e cultos. Mas, seus princípios foram antes cultuados por um único povo; primordial e resistente, criado à sua imagem e semelhança.
São esses fatos que nos fazem ter tanta dificuldade em entender a intolerância, o preconceito e a violência praticados em nome de Deus (?), contra os religiosos do Candomblé e da Umbanda ou de qualquer outra religião. A religiosidade Africana é a prática de uma doutrina baseada em valores de Paz, Justiça, Amor fraterno e Sacralização da vida".
Babalawo Ivanir dos Santos

O poder de Sòngó.


Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é a sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis. Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel?
Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.
Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súbditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.
Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. Em outros termos, o déspota reflecte a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua rectidão e honestidade superam o seu carácter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.
Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.
Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal, o que seria um ‘olhar de fogo’senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao olhar de “flirt” de Xangô?
Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo.
Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.
A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.